abril 15, 2008

Notícias Sábado: Maria Porto



Sexo, Paixão e Dinheiro

"Repetiria tudo!"

Um ano depois, a NS volta a entrevistar a verdadeira Call Girl portuguesa, em que até Soraia Chaves se inspirou para fazer o seu último filme.

Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira


Em 2007, o livro A Tua Amiga era lançado pela editora Palavra. O exemplo de Bruna Surfistinha, uma acompanhante de luxo brasileira que também escreveu um livro picante sobre as suas experiências sexuais com estrondoso sucesso comercial servia de prefixo para um êxito esperado, mas inédito em Portugal. Andreia Soares veste-se do pseudónimo de vinil Maria Porto para trabalhar e para escrever quando regressa a casa ao final da noite. Conhece os homens mesmo sem os olhar, pressente-os, nas respirações ofegantes.
“Entre nós, somos putas, é esse o nome que vem no dicionário para a nossa profissão”, diz, enquanto se afasta do estereótipo, encaminhando-o para um aspecto mais mítico do mais velho negócio da humanidade, e por cujos lençóis passaram ao longo dos tempos, reis, imperadores, escritores, poetas e pintores e tantos homens e mulheres comuns cujo tempo lhes apagou a memória. Porque na natureza humana, “a moral também é uma questão de tempo”, escreve Garcia Marquez numa das suas obras, os prazeres da carne não têm julgamento, sem ser o interior. Talvez por isso lhe chamem Lolita, por conhecer o mundo dos sentimentos sem ter aprendido ainda a amar. Talvez.
A poucos meses de lançar o seu segundo livro, Maria Porto, revela os sonhos próprios dos vinte anos cujos traços lhe conservam o rosto de menina, destapa as marcas da experiência humana que deixam toldada, cada palavra que exala, assume-se, sem complexos, como é, e como “gosta” de ser.




Depois do primeiro livro, vem aí o segundo...
Já há algum tempo que venho escrevendo dois manuscritos para editar. Um é mais pessoal, mais literário, que A Tua Amiga, que era uma coisa mais espaçada no tempo e feita com outro espírito, não tão essencialmente literário, sobre uma mulher de quarenta anos que passou por muito na vida, e que funciona como uma visão de futuro de mim própria.
Depois há um outro, uma ficção que incide sobre o mundo das acompanhantes, mais sexual, mais carnal, digamos assim a que dei o nome de Escorting Dummies, mas que não sei se será o título que vai para as bancas, até porque normalmente é a editora que o dá. Eu vivo apenas e escrevo o que sinto!


A Tua Amiga foi um sucesso, em número de vendas e no que se falou dele. Seguirá na mesma linha literária?
O primeiro era um conjunto de textos que ia escrevendo no meu blog, coisas separadas, desta vez, e como gosto de ler e escrever, optei pelo romance.


Que tipo de literatura prefere?
Gosto da literatura erótica, ando há algum tempo para ler o Henry Miller, a Anais, e na Lolita do Nabokov já dei uma espreitadela. O mais recente acho que foi um livro chamado Pacto de Silêncio da autoria de Manuela Pontes, sobre o aborto, mas tantos outros, sei lá, os clássicos como o Pessoa de quem gosto muito.

Foi recentemente convidada para um documentário, é verdade?
Há alguns dias fui contactada por um cineasta espanhol a quem a psicóloga que participou comigo num programa da TVI me recomendou. É um convite para entrar numa longa-metragem. Foi muito porreiro, enviou-me até um curriculum resumido e o resumo do filme em questão. Lie achei muito bom, até vou fazer uma das cenas com o meu namorado porque ele quer explorar precisamente a nossa relação enquadrada no tipo de vida que tenho.





Histórias de adultos

Há um ano dizia não pensar em fazer filmes para adultos, mas recentemente entrou em algumas produções do género. Como mudou de ideias?
Aprendi com o tempo a nunca dizer nunca. Na altura pensava de facto que nunca o iria fazer, mas acabei por lá ir parar! Fui fazendo masoquismo, mas a longo prazo é complicado e comecei a magoar-me a sério. Deixam marcas físicas e não podia trabalhar como acompanhante assim. Nunca mais fiz masoquismo.

Como surge então nesta área da pornografia?
Através dos filmes Sado Maso que fazia, um produtor italiano, conheceu o meu trabalho e viu o meu site, e a seguir ao lançamento do livro convidou-me para fazer filmes para adultos em Itália.

Quanto é que se ganha por um filme desses?
Os cashés variam muito, mas podemos ganhar à volta de 700, 800 euros por dia.

Existe algum tipo de conhecimento ou empatia entre os actores, antes e depois das filmagens?
Não damos muita confiança uns aos outros. São vários, todos estrangeiros, brasileiras, alemães, italianas, a maioria strippers. Comunicamos todos em inglês, mas pouco. E nem há guião nem nada, explicam-nos a história e fazemos.

Não a assustam as doenças sexualmente transmissíveis?
Apenas no sexo oral não se usa preservativo. Em tudo o resto sim!

Prefere filmar com homens ou mulheres?
As mulheres, não porque goste mais ou menos, mas porque dão menos trabalho. Os homens são mais complicados... Alguns têm de parar algumas vezes por causa da pressão das câmaras, outros por estarem tanto tempo sem ejacular não conseguem fazer o cumshot, que é normalmente o fim da cena.

Nunca teve um orgasmo numa dessas cenas?
É difícil isso acontecer porque estão não sei quantas pessoas em estúdio a olhar para nós!
Na prática não é tão engraçado como na teoria!

Então porque decidiu fazê-los?
Não os fiz apenas pelo dinheiro, não tenho prazer, mas é uma aventura que não me vejo a fazer por muito tempo. E é melhor do que trabalhar na Zara!




Sexo sem máscara

Depois do casamento fracassado, voltou a ser acompanhante.
Gosto de entrar e sair quando quero das coisas, nisto e em tudo!

Trabalha por conta própria?
Nesta vida não há patrões, há chulos e eu não aceito isso. Já que tenho de andar aqui, faço-o por minha conta e risco. Era o que faltava andar a dar dinheiro a alguém com o meu corpo!

E os clientes...?
Há de tudo!

Mas quem está de fora, pode pensar que a maioria dos clientes são feios, porcos e maus... São?
As pessoas abrem-se muito mais debaixo dos lençóis, tiram a máscara. E nesse momento, a pessoa mais asquerosa possível pode revelar-se... diferente e um ser humano interessante. Aprendi assim a conhecer as pessoas, a entender muitos comportamentos sociais que de outra maneira não atingiria.


Tudo isto é mais do que sexo, é isso?

O dinheiro é sempre uma razão, porque senão não o fazia. Mas depois levo uma boa vida, não me falta nada, de vez em quando viajo quando conheço melhor os clientes, passamos o fim de semana fora e assim...

Tem uma boa casa, um bom carro, roupas, sexo e dinheiro. Para uma pessoa da tua idade, tens uma vida que invejaria a muitas raparigas...
Para se ter a vida que eu tenho, tenho de fazer coisas a que a maioria das miúdas não faria.

Reconhece que existe muita gente que não é feliz com a vida sexual que leva?
Como acompanhante, as pessoas vêm ter comigo para satisfazer fantasias menos normais. Desde vestir roupa de mulher, inversão de papéis. Na submissão por exemplo, costumo obrigá-los a fazerem-me felacio no tacão da bota, depende do que a pessoa queira realizar.

Quanto cobra por um fetiche?
São 300 euros.

E por uma relação normal?
Cobro 200 euros à hora. Sou paga por tempo.

E não tem de comprar material para as fantasias mais ousadas?
Normalmente é o cliente que traz o que quer utilizar.

Qual o fetiche mais estranho que já lhe pediram para realizar?
Há um rapazito que costuma vir cá que gosta que lhe aperte o pescoço até se sentir a sufocar... Não me agrada muito porque não gosto de magoar ninguém, mas para mim é normal porque já vi tanta coisa e já estou habituada sabe?

Mas então porque alinha nestas coisas?
Porque acho giro! Mas na minha vida pessoal não utilizo nada disso.


Amor, paixão e... sexo

Já foi uma mulher casada, mas durou apenas alguns dias. Porquê?
Era um fotógrafo que fazia as fotos para o meu site. Conhecemo-nos, saímos durante uns dias e casámos. Mas depressa descobrimos que não tínhamos nada a ver um com o outro.

Mas não foi para a cerimónia como aquelas senhoras que se vestem de branco aos quarenta anos...
Foi no civil e não fui assim, claro! Até tinha sido bom porque me tinha dado mais tempo para pensar duas vezes!

Ele sabia da sua opção de vida, mas aceitou-a depois do casamento?
Sabia, porque era ele que fazia as fotos para o meu book. Mas cheguei a deixar de ser acompanhante só que era muita adaptação junta. E Lisboa para mim não dá, não o conhecia bem, mudar de vida assim é complicado.

Mas a ideia era ir atrás de um sonho de uma vida “normal”?
Não consigo arranjar uma explicação lógica. No entanto ficámos amigos, falamos por email de vez em quando...

Era mais velho?
Tinha trinta, eu tinha 18,

E este namorado agora, chama-lhe “o casado...”.
Pode-se dizer que é meu namorado e é casado sim. É daquelas relações proibidas, mas que toda a gente sabe e acho que é isso que nos mantém juntos. Mas temos um relacionamento normal, até a nível sexual.

Tem a noção que daqui a vinte anos, poderia ser a Maria a mulher...

Exactamente, eu sei disso.

Ou tem a noção de que nunca vai ser a mulher?
Acho que nunca vou conseguir ser sexualmente fiel a uma só pessoa.

Porquê?
O sexo, depois de se conhecer... Só o facto de saber que até morrer só iria estar com a mesma pessoa não funcionava comigo.

Sabe com quantas pessoas já teve relações?
Quinhentas, seiscentas pessoas... Muitos são os mesmos, não posso ter uma noção correcta.

Algum que a tenha marcado?
Por exemplo no livro falo de um deles, um senhor muito idoso, que vou ver todas as semanas, que não tem ninguém neste mundo, não fala com ninguém próximo há anos e permitiu-se gastar o dinheiro dele comigo. Hoje em dia já não cobro, vou a casa dele, falamos, pergunto-lhe como está, nem fazemos nada, apalpa-me apenas!
Depois há outros, que vêm ter comigo em alturas complicadas da vida, quando morre alguém próximo, quando são deixados pela mulher...

As clientes mulheres, são diferentes da clientela masculina?
Sim, as mulheres vêm por outras razões, a maioria, até com os maridos, porque eles têm a fantasia de as ver alguém do mesmo sexo. Se fosse ao contrário, a maioria dos homens não gostariam disso e é aqui que acho que Portugal ainda é um país pequeno de mentalidade, homofóbico, cheio de hipocrisias que se revelam nos olhares, nas palavras, em pequenos sinais preocupantes.

E clientes famosos?
Alguns... futebolistas, políticos, celebridades. Mas não vou dizer os nomes, claro.

O que leva por exemplo, esse tipo de pessoas que têm fama, dinheiro e podem ter o que quiserem, até gratuitamente a vir procurar sexo pago?
Muitos deles, deixaram de vir depois do livro, mas continuo a falar com alguns. Para mim não são mais importantes que os outros. Alguns são normalíssimos, mas outros acham que o grau de interesse que devemos ter por eles deve ser especial, e queixam-se da imprensa por exemplo sem lhes perguntar nada. Há aqueles que fazem disto desporto, coleccionam uma loira, uma ruiva, uma gorda, uma magra...
Agora o porquê... Penso que o que os leva a virem, mesmo podendo ter as mulheres que quiserem acho que é o facto, como nós costumamos dizer, de não nos pagarem para fazer sexo, mas para irmos embora depois! Não tens de a levar a jantar, nem de conversar...

Nunca lhe aconteceu algo do género do que se retrata no filme Pretty Woman, com a Júlia Roberts e o Richard Gere?
(Gargalhada) Não!

E gostava de o conhecer, ou o seu ideal de homem é diferente?
Acho que não... O meu homem ideal?! Tem de ser qualquer coisa menos loiro, não muito alto porque sou pequenina. A sério a sério, aquele que para mim é o homem mais atraente e sexy da televisão portuguesa é o Vítor Norte!

Por causa da voz, do talento...
Vi-o na série Capitão Roby e fiquei apaixonada, por ele e pela personagem.
Gosto de homens mais velhos, mais maduros, que têm conversas mais elaboradas, têm mais charme, até sexualmente, tratam muito melhor uma mulher do que os miúdos da minha idade. E depois também não são muito difíceis de arranjar porque eles gostam de mulheres mais novas!

Consegue olhar para um homem e ver se é bom na cama?
Há certas características que aprendemos a perceber, Se for idoso é complicado, se for mais novo, com 22, 23 anos, têm aquela coisa do polvo, são braços e agarrões por todo o lado. Mas outras características, são mais complicadas de perceber assim só de olhar!

E a eterna questão do ser ou não ser... importante o tamanho, que me diz disso?
É tão importante como o tamanho dos seios da mulher, está tudo na cabeça das pessoas e consegue-se ter prazer de qualquer forma desde que se tenho algum tipo de empatia com a pessoa.

Tem algum fetiche especial?
Nada para além do normal.

Por exemplo?
Sei lá, fardas e assim....

Porque é que todas as mulheres gostam de fardas?
(Gargalhada) Nem vou ao Mcdonalds nem nada porque senão é um problema! Se calhar é porque antigamente representava um alto estatuto, talvez por isso!

Mas a farda representa autoridade, se me diz que é activa...
Então e dominar uma autoridade não é uma coisa desafiante?!

Tem muitos homens apaixonados por si?
Há alguns que são é obcecados!

E não tem medo?
Alguns já me perseguiram, mas tenho os meus métodos de protecção e nunca tive grandes problemas! E acho até normal, porque se cria sempre uma ligação e por vezes não compreendem que estamos ali porque é o nosso trabalho.

Costuma beijar os clientes, na boca?
Diz-se que não se deve beijar na boca, nem olhar nos olhos, porque quando o fazes estás a dar muito a uma pessoa.

E outras regras, não escritas da prostituição?
Temos um código que não é dito, mas subentendido, em que depois de sair o cliente não existe. Mesmo que nos encontremos, não nos devemos reconhecer, cumprimentar ou falar. É claro que por vezes acontece, por exemplo já encontrei uma vez um cliente meu quando fui comprar móveis e ele nem cumprir a regra e cumprimentou-me com a maior das naturalidades.

Mas e a Maria, segue essas regras?
Eu é mais reverse cowgirl! (sorriso)


Então?

É aquela posição de mulher em cima, mas virada ao contrário. É bom em tudo. É visualmente mais excitante, logo o homem vem-se mais rápido.

Mas quer é despachar o cliente?
O tempo serve acima de tudo, quando o cliente me desagrada. Mas quand é um amigo que já conheço e com quem estou à vontade, não há problema.


Tem amigos nesta área?

Há alguns com quem nunca sequer tive nada. Há por eemplo um rapaz que vinha cá, sentava-se na poltrona e falava nos problemas que tinha com os pais, com a mulher e eu ficava ali a dar-lhe conselhos. Diz-me logo para não tirar a roupa...

E paga na mesma?
Paga, claro!

E com outras prostitutas, tem relação com elas?
Sim, damo-nos todas, e tenho algumas amigas também.

Mas entre vocês, chamam-se de prostitutas?
Entre nós, somos putas, é esse o nome que vem no dicionário para a nossa profissão, que até já cá anda há algum tempo, ou não?!


Já chegou a ter uma relação afectiva também com uma outra acompanhante.

Sim, mas e apesar de gostar de mulheres prefiro homens. Acabamos por chocar em muita coisa sabe?




Ares de Lolita

Tem uma expressão bastante jovem ainda... É uma miúda que não sabe bem o que anda a fazer, ou uma mulher que tomou uma opção de vida consciente?
Sou ambas. Gosto de desenhos animados, mas também gosto daquilo que os adultos fazem e são.

Não tem medo de perder esse ar jovem, de Lolita, a que se vêm várias referências por parte dos seus clientes?
Tenho cuidado com isso, até fisicamente., corro de manhã, faço natação, tenho cuidado com a alimentação. Alguns procuram-me por isso sim, por causa desse ar jovem que tenho e até me perguntam se sou maior de idade. Vejo muitas acompanhantes que com a minha idade faziam aquilo que faço e vejo como estão decadentes agora. Mas não tenho vícios, nem álcool, nem drogas, e tenho esse exemplo para não seguir por esses caminhos.

Mas falava num aspecto mais interior...
Para alguém que veio de uma terra pequenina, interior, fechada, acho que cresci depressa demais. Fui mãe aos 15 anos, isso ajudou-me, mas não é essa a razão pela qual ando aqui. Quero garantir-lhe um futuro promissor, dar-lhe coisas que os meus pais, não me puderam dar. Não são pobres, mas também não são aquele tipo de pessoas que me podiam por numa universidade privada.


Mas o que gostaria de ser?

Gostaria de fazer qualquer coisa relacionada com escrever, sinto-me bem a fazê-lo.

Como começou tudo isto para si?

Aos 15 anos estava a trabalhar numa fábrica de têxteis na minha terra. Era uma merda. Um dia fui comprar tabaco a uma tasca e o dono da tasca convidou-me a ir para um barracão ali perto. E eu, ainda hoje não sei porquê, respondi instintivamente que só ia se ele me pagasse! Demorou pouco tempo, e pensei que já que era sim, decidi ir para uma cidade maior e ganhar dinheiro a sério. Cheguei ao Porto, comprei o jornal, trabalhei como dançarina num clube de strip-tease, pensava que era só para dançar com uns senhores! Mas rapidamente me apercebi que não era só os cinquenta por cento do valor dos copos, também havia sexo à mistura. Vi logo, que afinal não valia a pena e já que era para fazer sexo, ganhava eu dinheiro. Até porque não queria acabar como muitas das minhas colegas, decadentes... Então juntei dinheiro e aluguei casa, pus anúncios e comecei a trabalhar por conta própria.

Noto-lhe uma certa raiva, quando fala disto...
Se é para ser acompanhante não era para ser uma qualquer, estou farta de fazer parte de estatísticas.

Porquê?
Não somos um conjunto de dados e eu não gosto que me vejam pelo meu nome, por uma mãe adolescente, essas coisas todas...

Já amou alguém?

Tirando a minha filha?! Tive sim, um amor adolescente que é o pai dela, mas era muito ingénuo. Amor a sério estou a tentar descobrir o que é. É difícil entender.

Mas o seu namorado sabe disso?
Sou séria com ele e acho que o amo!

Diz-lhe que “acha” que o ama?
Digo, claro, digo tudo, até porque não estou habituada a coabitar para além de mim própria, sou independente, sempre o quis ser e consegui e até por isso é difícil deixar alguém entrar no meu mundo!

Onde se vê daqui a dez anos?
Imagino-me no Porto, e gostava de ter a minha filha comigo, porque desde que vim para cá ela está com os meus pais. Mas estou com ela todos os fins de semana. No entanto sei que não vou estar casada, não terei mais filhos, terei um negócio próprio, se calhar a tal loja de roupa para pessoas com medidas abaixo das standard... Patrões é que nunca, ou alguém a mandar em mim.

Os seus pais, aceitaram mal tudo isto, calculo...
Ao início sim, principalmente a minha mãe! Mas com o tempo melhorou muito a nossa relação. Ainda há alguns dias, e quando o livro foi lançado em Itália, o mostrei à minha mãe e não houve problema.

Como ficou a edição italiana?
Até é engraçado porque as expressões, ditas em italiano, ficam mais giras... Por exemplo uma a que acho muita piada... “amichetti del pompino“, ou os amigos do broche! (gargalhada) E a capa italiana também está melhor que nem gosto muito da da edição portuguesa, que não tem muito a ver comigo.

Não tem medo de um dia, e de um modo geral olhar para as pessoas e, pelo facto de as conhecer a um nível tão profundo e intimo com tudo o que de bom e mau essa experiência pode ter, perder a fé na humanidade?
Sabe que aprendi com o tempo que até as pessoas mais odiosas guardam em si algo de bom. Tenho esse por princípio de vida, e transporto-o comigo na forma como vivo diariamente na vida pessoal e no trabalho

O que mudaria em si, se voltasse atrás?
Gostava de ser mais alta, mas isso não posso comandar! (sorriso) Talvez à excepção do casamento, acho que repetiria tudo sabe?

Porquê?
Porque gosto da pessoa que sou.



Dentro do Armário

Políticos e prostitutas

Ainda recentemente, um senador do estado de Nova Iorque teve de se demitir por se ter descoberto o seu envolvimento com uma prostituta de luxo. Faz sentido isto?
Acho que somos hipócritas. Se um politico deve demitir-se porque requisitou o serviço de uma acompanhante, porque não devem também fazê-lo os professores, médicos, advogados que o fazem igualmente? No entanto, acredito que se sinta pressionado à demissão pela opinião pública. Acho que a palavra hipocrisia se ajusta melhor que preconceito.

Existe a ideia de que há uma grande proximidade entra a política e a prostituição. É verdade isto?
Acho que se deve à "garantia" de confidencialidade. A etiqueta no escorting não nos permite revelar a identidade do cliente, e isso pode dar-lhes um senso de segurança (que no caso do politico dos EUA foi traído, coisa que uma acompanhante sensata não faria). Se um politico mantiver relações sexuais com uma mulher qualquer, corre sérios riscos de ser difamado ou chantageado. Com uma profissional, não existe essa preocupação.

Já esteve com algum político?
Um dos personagens mais caricatos do meu livro é o "Autarca". Sempre o visitei na própria residência dele e é um bom cliente.
O "Autarca" do livro, como está lá, tem um fetish por dogging (gosta que lhe ponham uma trela e lhe façam 'adestramento') mas no geral acho que os politícos são pessoas sexualmente saudáveis como nós, acredito que este caso é uma excepção porque é o único que tem uma tara específica.

Notícias Sábado
Capa
Março de 2008

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